20.1.18

NO PASO DE AGUA NEGRA

30 e 31/12/2017 - sábado e domingo - de RODEO (ARG) a VICUÑA (CHILE) - 271 km rodados hoje. Total de 3.944 km (sendo 1636 no Brasil, 2160 na Argentina e 161 km no Chile)

(escrito por Flávio Faria)

1) Antes de sairmos do hotel hoje, em Rodeo, nossos outros dois parceiros: Paulo Amaral e Anderson, já estavam na estrada com destino ao Atacama. Pararam pra pernoitar em Presidente Prudente/SP. Iremos nos encontrar no dia 3/1/2018 em San Pedro de Atacama (Chile).

2) Hoje foi um dia que seguramente marcará nossas vidas. Atravessar de moto o Paso de Agua Negra (região da Cordilheira dos Andes que separa a Argentina do Chile) é algo para poucos privilegiados. De fato, é um cenário único nesse planeta tão diversificado. As montanhas totalmente sem vegetação é um lugar impróprio para a vida humana. Interessante perceber que nesses locais ermos nós aprendemos a valorizar ainda mais nossas próprias vidas, a perceber o quanto somos pequenos diante da grandiosidade da obra divina. São 200 km sem qualquer povoado ou cidade. Nada se vê além de pedras e areia de colorações variadas, em altitudes que chegam aos 4753 metros. Difícil de respirar. Foi nessa região que caiu o avião uruguaio, em 1972, em que os sobreviventes tiveram que recorrer ao consumo de carne humana para se manterem vivos.

3) Curvas e mais curvas, centenas delas de 180 graus, nos esperavam. Subidas e descidas íngremes nos 77 km do temido rípio (cascalho) foram vencidas lentamente, beirando despenhadeiros cinematográficos. Sofremos com o compartilhamento da via com caminhonetes 4x4 que levantavam poeira na nossa frente. Nessas horas é bom ter certo "senso de covardia" para encarar esse terreno pedregoso e não pavimentado. Como dizem lá em Minas : "Precaução e caldo de galinha nunca mataram ninguém". Fizemos toda a travessia em segurança, sem nenhum incidente ou risco digno de ser mencionado.

4) A parte mais bela do Agua Negra são os blocos de gelo branco que se formam nas laterais da pista (vejam fotos) e os lagos esverdeados acima dos 3 mil metros de altitude.

5) Mas nem tudo poderia ser perfeito no dia de hoje. Na primeira aduana, Argentina, ficamos exatamente 2h20 para sermos atendidos, com sol forte sobre nossas cabeças e sensação térmica de 43 graus (medida fielmente pelo aparelho Skywatch). Na aduana chilena, foi bem pior! 2h50 em condições parecidas, inclusive com desmonte da bagagem para ser radiografada. Burocracia de 5h10 no total. Uma evidência absurda do nosso subdesenvolvimento. Um fingimento evidente de que eles levam tudo muito a sério.


2h50 na aduana chilena, em busca de sombra
6) Paramos para passar dois dias em Vicuña, uma cidadezinha chilena muito simpática que está nos encantando, próxima do trecho final de Agua Negra. Aproveitaremos para lavar as  motos e as cuecas e passar o ano-novo por aqui mesmo. A ideia era ir para La Serena, mas os preços por lá estão exorbitantes e os hotéis são raros nesta época. Estamos hospedados num local muito bacana, chamado Hostal Aldea de Elqui, a preço de 15000 pesos chilenos (diária individual), algo abaixo de 100 reais.

(fotos do Paso de Agua Negra)
























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