20.1.18

ROTA INTEROCEÂNICA - Voltando pra casa

Dia 12/1/2018, sexta – de CUSCO a PUERTO MALDONADO - 474 km hoje. Total de 7.643 km rodados desde Brasília (sendo 1636 no Brasil2160 na Argentina e 2349 no Chile e 1498 km no Peru)

(por Flávio Faria)


1) Desde que saímos de Brasília, estávamos conscientes que o mês de  janeiro é o mais inapropriado para se viajar o Peru de motocicleta, por causa dos níveis pluviométricos assustadores. Não estava nos nossos planos pegar a Cordilheira dos Andes, a Amazônia peruana ou o norte do Brasil, por causa das chuvas e cheias dos rios. Nosso planejamento era voltar pela Bolívia. Isso não deu certo por conta dos bloqueios das estradas e fronteiras promovidos pelos caminhoneiros bolivianos desde o dia 9. Ainda teríamos que encarar a animosidade que os nativos bolivianos cultivam contra os brasileiros. Nós somos, na concepção das lideranças populistas dos movimentos locais, representantes do imperialismo e do capitalismo selvagem (o que eu concordo parcialmente). Mas não queremos pagar uma conta que não é nossa. Resolvemos voltar pela Rota Interoceânica com destino a Rio Branco, capital do Acre, encarando o risco que isso representa. A rodovia BR 364 está a ponto de ser interditada por causa das cheias no rio Madeira. Li ontem um relatório da Defesa Civil, que prevê a possibilidade de interdição da rodovia, entre Rio Branco e Porto Velho (RO), nos próximos 5 dias. Tentaremos passar por lá nesse ínterim. Estamos em regime total de insegurança quanto a isso. 

2) A Rota Interoceânica foi bancada com recursos do nosso BNDES, com a desculpa de ser um corredor de exportação pelo oceano Pacífico, pelo porto chileno de Iquique. Pode até ser verdade, mas não vimos um único caminhão com placa do Brasil transitando pela rodovia, nem aqui ou em Iquique (o porto chileno onde finaliza a rota). Esta rodovia é uma obra de arte, mas foi superfaturadíssima, como todos os projetos realizados sob liderança da famigerada Odebrecht. Seus custo inicial era de US$ 800 milhões, mas no ano seguinte já estava em US$ 1,3 bilhão. Existe em Lima uma operação aos moldes da "Lava Jato" que já identificou 200 milhões de dólares em propinas aos políticos e governantes peruanos, oriundos "apenas" desta rodovia.

3) Mas voltando à viagem... Hoje foi um dia danado! Levamos 10h pra cumprir os 474 km no deslocamento de Cusco até aqui, Puerto Maldonado (de onde escrevo este relato). Encaramos metade do trajeto da Cordilheira dos Andes e boa parte da amazônia peruana sob chuva insistente. Foram milhares de curvas fechadas sobre piso molhado, em altitudes que chegaram aos 4725 m (vale lembrar que o ponto mais alto do Brasil, o Pico da Neblina, está a 2995 m de altitude). Um frio de doer, que atingiu sensação térmica de 2 graus negativos. Por diversas vezes chegamos a pilotar no meio das nuvens, que estavam baixas nos picos da Cordilheira. Errar a tangente numa curva de 180 graus (a mais comum), em altitudes elevadas, é "caixão e vela preta". Foi um exercício de concentração medonho. Mas não passamos por nenhuma situação de risco, graças a Deus! Sem qualquer exagero, nos primeiros 350 km de hoje não houve uma reta sequer que tenha durado mais de 10 segundos de deslocamento. Foram curvas pra dar de pau! Motociclista gosta disso, mas em doses menos cavalares. Se não fosse a chuva e o piso molhado, não haveria nenhum comentário sobre esse assunto.

4) Cheguei a Puerto Maldonado com pescoço, ombro, pulso, bunda, lombar e panturrilha em "pandarecos". Tudo doendo pra chuchu! O peso da idade é perverso! Mas "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Um pouco de sofrimento dá tempero especial à aventura.









2 comentários:

  1. Dureza, heim? Mas os tons cinza também fazem parte da paleta de cores da vida. Que venham cores mais calientes!!!!

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  2. Belas curvas, parecidas com os Caracoles nos Andes, em direção a Santiago, mas, pelo visto, bem mais difíceis. Flávio, admiro vc enfrentar tudo isso com os craques e croques da coluna. Maravilha

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